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Ian Jack, editor de Granta, uma das mais respeitadas revistas literárias do mundo, deixou claro no editorial do número 54 que “qualquer país com uma indústria editorial séria, promove concursos literários”.
No Brasil, temos o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, aberto a autores nacionais de obras já publicadas, e o Concurso Guimarães Rosa patrocinado pela Radio France Internationale para contos inéditos. Neste último podem inscrever-se autores do mundo todo desde que o texto seja escrito em português. Além destes dois concursos, já consagrados, temos iniciativas isoladas de algumas prefeituras e academias de letras que promovem este tipo de evento, mas sem nunca conseguirem projeção e reconhecimento nacional.
Muitos são os motivos que levam as editoras a rejeitar uma obra. O principal deles provavelmente reside no fato de que o povo brasileiro lê muito pouco, o que faz com que as edições de livros sempre sejam muito pequenas. Estas edições sempre ficam em torno de 2.000 a 3.000 exemplares. Mínimas, se comparadas às primeiras edições feitas no mercado americano, sempre em torno de 150.000 a 200.000. Outros problemas como o fato das editoras não terem em seu quadro funcional pessoas qualificadas para avaliar todas as obras que lhes são enviadas, ou por julgarem um original como não pertencente à linha editorial, ou até por já estarem com sua capacidade de publicar novos autores esgotada por determinado período, fazem com que sejam rejeitados os trabalhos de mais de 35.000 escritores por ano. Para estes autores, a única oportunidade de reconhecimento reside na participação em concursos literários.
Ocorre que, grupos de pessoas, empresas e principalmente muitas editoras desconhecidas e sem projeção, conhecendo os números do mercado editorial brasileiro, lançam concursos que, se aos novos autores parecem ser chances imperdíveis, tábuas de salvação, acabarão beneficiando unicamente os próprios organizadores dos concursos.
Hoje, divulgar um concurso literário é muito fácil e barato. Existem “páginas” na Internet cuja única finalidade é esta e que, através de correio eletrônico, avisam aos autores que nela tenham se cadastrado, da abertura de novos concursos, seus regulamentos, datas, temas e requisitos para inscrição.
Se levarmos em consideração o poder de pulverização da informação que a Internet possui, pode-se entender porque mesmo um concurso promovido por uma associação de proteção aos animais do interior do Amapá consegue ter centenas e, à vezes, mais de 2.000 inscritos. Muitas destas organizações cobram pela inscrição valores em dinheiro que variam de R$ 10,00 a R$ 60,00, o que em si mesmo não é um problema, pois esta prática é adotada pela própria Câmara Brasileira no Livro para receber inscrições para o Prêmio Jabuti.
Mas o problema é que, em meio a vários concursos de menor repercussão, mas ainda assim promovidos por instituições sérias, cujo único intento é divulgar boa literatura e dar espaço aos novos talentos, existem aqueles que, se ao menos não colocam as garras diretamente no bolso do escritor, conseguem amealhar grandes somas disfarçando suas intenções. Cobram a inscrição, julgam a obra (sabe-se lá por quais critérios e por quem) não conferem sequer um diploma de participação aos ganhadores e, destes, ainda tentam receber em torno de R$ 400,00 para que a obra possa participar da “antologia” que será publicada com as obras vencedoras.
É fácil fazer a conta: supondo que o concurso seja bem divulgado e tenha em torno de 1.500 inscritos e que se cobre para a inscrição o valor médio de R$ 35,00, os organizadores conseguem gerar, em poucos meses, R$ 52.500,00. Mesmo que contratem, a peso de ouro, professores e jornalistas de alto gabarito para avaliar as obras, ainda assim tem-se um lucro fabuloso. Em troca, para promover sua obra, o autor só recebe algumas cópias do livro, que normalmente acabarão nas estantes de parentes e amigos próximos.
É claro que existem, além dos mencionados, prêmios sérios e considerados, mas sua importância varia no cenário cultural e literário, nacional e internacional. Existem concursos para autores da América Latina, em que escritores brasileiros podem inscrever-se com obras em português, e que conferem prêmios de até US$ 15.000,00 e este ano a Fundação Cultural do Estado da Bahia está dando um prêmio de R$ 10.000,00 para a obra vencedora. São iniciativas válidas, merecedoras de toda consideração e respeito.
Mas na mesma relação em que figuram estes dois concursos, existem aqueles aos quais um autor novo não pode e não deve entregar para ser julgado o fruto de seu trabalho, tendo ainda que pagar, e caro, para ser reconhecido.